quinta-feira, 6 de junho de 2013

O Café Compartilhado da Ekoa Café em mais uma reportagem!


Compartilhando gentilezas acompanhadas de um café
Bianca Mascara, especial para o Cidadania

Um café na capital paulista provou que é possível espalhar solidariedade por meio de gestos simples e escolheu o tradicional cafezinho para promover a corrente

Foto: Divulgação
Foto: Divulgação
Café fica especial com recado e corrente de gentilezas
Sexta-feira de outono. Vento gelado, entardecer e o tradicional bairro paulista da Vila Madalena, a Vila Madá, para os íntimos. A opção é uma paradinha para um café.
Poderia mesmo ter sido apenas um café, mas ele se transformou em uma experiência renovadora, graças a uma ideia simples, porém genial. O Café Ekoa criou o sistema de “café compartilhado”, uma iniciativa que incentiva a gentileza.
Uma lousa anunciava que dois cafés já estavam pagos. Foi só pedir e ele foi servido juntamente com um bilhetinho: “Por um mundo com mais café e sorrisos. Aproveite! Saúde!”. A mensagem foi escrita por Felipe Lima, ele também havia passado pelo Ekoa naquela sexta feira de maio.
Felipes, Marias, Fábios ou Beatrizes, é possível sentir a diferença naquele ato de cortesia, formalizado em um gesto simples. O sistema foi implantado por Marisa Bussacos, a dona do estabelecimento. Sua inspiração veio de longe e chegou por meio das palavras, em um livro, cuja história se passava na República Tcheca. “Na verdade, a ideia se baseia na história de um livro, o The Hanging Coffee. A pessoa deixava um café e o próximo não pagava, isso foi minha inspiração”, contou Marisa.
No entanto, o café compartilhado foi um aperfeiçoamento dessa ideia, que engradeceu a proposta. “Ao contrário do café pendente do livro, você pode deixar bilhetinhos e também é uma forma de conectar as pessoas, porque elas deixam o contato”, explicou. De fato, o recado deixado pela pessoa anterior inspira ainda mais aquele momento.
“Que a importância de uma coisa,
não se mede com fita métrica,
nem com balanças, nem com barômetros.
Que a importância de uma coisa
há de ser medida pelo encantamento
que a coisa produza em nós”
(Manoel de Barros)
O ambiente ainda possui mais surpresas. Outra lousa permitia a intervenção do público, que deixava seus recados fazerem parte da decoração. Não faltam frases que promovem a reflexão e, juntos com a tranquilidade do local, adoçam o café com mais poesia.
Como toda a boa ideia, o café compartilhado foi se espalhando e criando novos adeptos dessa iniciativa solidária. “Antes, apenas o pessoal da região conhecia, mas a notícia foi se espalhando e muitas pessoas visitam só para conhecer o café compartilhado”, conta Graça Ferreira, que trabalha no local há cinco anos e viu a proposta nascer, há três. “Hoje, a ideia já foi divulgada até em jornais do exterior e também teve uma cliente do Rio de Janeiro que pediu se poderia repetir o sistema no estabelecimento dela. É claro que permitimos, não é patenteado”. A ideia é essa mesma, espalhar solidariedade.
“Tem gente que vem só por causa disso, mas tem muita gente que bate o olho no quadro da entrada, fica curioso e pergunta do que se trata”, acrescenta Marisa, que também viu casos curiosos de pessoas que se aproveitaram da ideia do café compartilhado.
“Já aconteceu de semanalmente uma pessoa passar aqui e deixar um café pago e um cheesecake de nutella para um amigo específico, que sempre passava por aqui”, contou. A corrente se espalha até para aqueles que conhecem o café compartilhado sem querer. “Teve uma senhora que passou aqui, comprou um bolo, mas não tinha dinheiro para o café. Então, falei do café compartilhado, que já tinha um café pago. Na semana seguinte, ela voltou só para deixar um café pago também”.
No uniforme da funcionária Graça, a frase “gentileza gera gentileza” fundamenta o objetivo do café compartilhado. A corrente se estende e se espalha, transformando um hábito singelo, como o tradicional cafezinho, em algo mais. A gentileza é repleta de um encantamento, responsável pela transformação do momento em sensação marcante. “É uma rede de gentilezas e uma forma de conectar as pessoas”, resume Marisa.
O Café Ekoa também traz outras propostas aos seus visitantes. O estabelecimento acredita que a sustentabilidade deve partir de cada um, em pequenas atitudes. A construção do espaço é toda baseada em princípios ecológicos, os alimentos orgânicos fazem parte do cardápio, uma maneira de incentivar uma alimentação consciente. Além disso, os colaboradores participam de seminários sobre sustentabilidade e desenvolvimento social.
Terminado o café e influenciada pela proposta pró meio ambiente, escolho as palavras de Manoel de Barros, para dar sequência à corrente do café compartilhado. Conhecido como poeta do pantanal, por colocar em palavras a sensação produzida pela natureza, e cujos versos escolhidos pareciam ter sido produzidos especialmente para aquela ocasião, repleta de um encantamento.
Escritório de novas ideias
O Café Ekoa também é sede do The Hub, uma rede global de espaços destinados a pessoas que desenvolvem ideias voltadas para ações sustentáveis, que colaboram com o meio ambiente. Trata-se de um escritório compartilhado, que fica no piso superior do café na Vila Madalena.
“O Hub tem algumas definições, mas eu acho que é um espaço. Uma das coisas fantásticas do Hub é que ele é um espaço físico, no momento que a gente tem tantas redes virtuais, um monte de gente que se fala por esse caminho. Às vezes, falta concretizar essa rede, o Hub, acima de tudo, ele concretiza uma rede”, explica Henrique Bussacos, irmão de Marisa e também proprietário do espaço.
Apesar de valorizar um espaço físico na criação de ações voltadas para a sustentabilidade, o The Hub não ignora o poder da rede e também se apropria dele para o desenvolvimento de seus projetos. A sede do Café Ekoa é apenas uma, dos quase 50 outros espaços espalhados pelos cinco continentes. Eles interagem entre si, buscando uma ação conjunta no desenvolvimento dos projetos.
Dentre os ideais apregoados pelo Hub, está o empreendedorismo, a inovação e o comprometimento ético. A conexão de pessoas acontece tanto no ambiente, quanto na internet. “A ideia é diversidade, tem um empreendedor da periferia e um cara do mercado financeiro da Faria Lima, sentados na mesma mesa”, ressaltou Bussacos.
“Acho que mesmo quem não está vendo a beleza da mudança, vai ser empurrado pela mudança”, encerrou Henrique.

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